Colunista reflete sobre redes de influência na web


Eu sempre achei que me sairia bem como presidente de uma grande empresa. Sou muito organizada, para começar, e não veria problemas em eliminar divisões desnecessárias a fim de elevar os preços das ações. E em termos de aptidão logística?

Na semana passada, por exemplo, em um único dia eu levei adiante diversas iniciativas estratégicas que incluíam fazer um bolo de três camadas, entrevistar um historiador, limpar o quarto de minha filha porque meus pais viriam para uma visita e cuidar do meu marido gripado ("minha febre continua em 39 graus", ele anunciava periodicamente em uma voz debilitada). E tudo isso antes do almoço.

A única coisa que me separa de um jatinho pessoal, portanto, é a falta de uma oferta da ExxonMobil. Ou até da Microsoft.

Talvez eu não tenha formado a rede de relacionamentos necessária, e seja esse o problema. Trabalho no porão da minha casa, e lá meus únicos contatos profissionais são meus cachorros, que não parecem muito impressionados com o meu currículo. E, nas raras ocasiões em que me arrisco a subir à superfície e participar de um evento com pessoas que poderiam me oferecer opções de ações em troca da receita de minha avó para um bolo de chocolate, fico sem jeito. Começo a gaguejar. Enrubesço.

Na Internet, porém, ninguém é capaz de dizer que você está com vergonha. Os sites que promovem redes sociais de negócios, do LinkedIn, formado cinco anos atrás, ao NotchUp.com, que surgiu recentemente, atraem membros com a alegação de que gente que reluta em se promover, como eu, pode fazer contatos, e até mesmo obter entrevistas de emprego, sem muito esforço.

"As pessoas que cuidam das contratações, hoje, muitas vezes não obedecem ao velho modelo de publicar um anúncio e esperar que alguém qualificado responda", disse Kay Luo, porta-voz da LinkedIn. "Elas saem à procura de profissionais. Fazem buscas na web. Ao divulgar informações online, você torna possível a pessoas que estão em busca de conhecimentos como os seus que o encontrem".

Eu decidi tentar. Algumas semanas atrás, reativei minha conta no LinkedIn, há muito adormecida, e me vi em companhia de mais de 19 milhões de membros que pretendem construir amplas redes de contatos, na esperança de melhorar suas carreiras.

Também publiquei meu currículo online, no NotchUp, cuja promessa é me colocar em contato com profissionais de recursos humanos e headhunters que até me pagarão para comparecer a uma entrevista de emprego. Como é que alguém poderia resistir a essa promessa?

No LinkedIn, o número de associados era muito maior do que em minha passagem inicial, quatro anos atrás, quando o site mal havia começado. Não demorei a encontrar muitos colegas, velhos amigos e conhecidos de negócios. Em poucos dias, eu tinha começado a visitar minha página do LinkedIn para ver as novidades de maneira tão compulsiva quanto faço com meu perfil no Facebook.

Eu verificava as "atualizações de rede", para ver quem meus amigos haviam registrado como novos contatos, e decidir se queria incluir essas pessoas em minha rede. E o serviço me alertava sobre as visitas ao meu perfil ¿"10 pessoas nas duas últimas semanas" -, e me oferecia dicas sobre suas identidades ¿ "repórter da Bloomberg", "editor do Chicago Tribune" e, como prova de que posso manter a esperança quanto àquele posto na Exxon Mobil, "proprietário de empresa de recrutamento".

Decidi me envolver ao máximo com essas redes passivas. Depois de aceitar diversos convites para me tornar o que o site descreve como "um contato de confiança", passei a enviar dezenas de convites do mesmo tipo. Não demorou para que eu tivesse uma rede de negócios com 99 contatos (de primeiro grau), 10 mil amigos de amigos e cerca de 700 mil contatos em terceiro grau.

Foi divertido. Descobri que um vizinho que vive a alguns quarteirões e tem uma empresa de produção de livros mantinha uma lista de 280 contatos de primeiro grau composta por mais editores, diretores de criação e executivos editoriais do que a Conde Nast poderia contratar.

Conselho
Mas será que eu estava sendo passiva demais? Decidi pedir conselho a Luo, do LinkedIn. "Vou ver sua conta", ela me disse, e eu ouvi ruídos de teclado. Ela recomendou que eu editasse o endereço de minha página de perfil para incluir meu nome completo, e também me ofereceu conselhos sobre minha descrição de especialidades, uma das quais era "continuo capaz de recitar de memória a maior parte de Annabel Lee, que decorei na quarta série". Ela recomendou que eu acrescentasse detalhes como "colaboradora da revista Styles", para que as pessoas que estivessem a procura desse tipo de especialidade pudessem me localizar.

"Na verdade, meu plano era mudar de carreira e dirigir uma grande empresa", informei. Luo pensou um pouco e disse que "em geral, o melhor meio de mudar é por intermédio de pessoas que a conhecem e confiam em você". Ela usou como exemplo uma situação em que eu pediria a um ex-chefe que me recomendasse para um emprego em setor no qual sou inexperiente ¿ o que seria um bom conselho, se minha vergonha não me impedisse de pensar em algo assim.

Mas lentamente o sistema de redes passivas começou a apresentar resultados. Um dos meus contatos de primeiro grau pediu que eu a apresentassse a outro, um jornalista do New York Times. Poucos dias depois, o mesmo jornalista me encaminhou um contato, o de um editor de revista que procurava uma jornalista que soubesse usar o humor.

No meu caso, infelizmente, o momento é ocupado demais para que eu possa pensar em mudar de emprego. Mas algum dia, depois que meus cachorros aprenderem a operar maçanetas com as patas e a tosse de meu marido enfim passar, estarei pronta.

Só espero que, quando esse dia chegar, o cara de recursos humanos da Exxon que é um dos meus contatos terciários esteja procurando alguém com experiência em "arbitragem de mesada".

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